Nesta semana, o Governo do Distrito Federal
(GDF) declarou situação de emergência para os próximos seis meses. Nos últimos
dias, além do rodízio no abastecimento das regiões administrativas abastecidas
pela Bacia do Alto do Descoberto, também foram anunciadas mudanças no uso da
água para o meio rural. A Secretaria da Agricultura, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural (Seagri) divulgou um plano de ação no intuito de orientar
e apoiar os agricultores para adequar a atividade agropecuária a esta
realidade.
A área
rural atingida possui 800 imóveis, aproximadamente 36 mil hectares. A
prioridade da Seagri é conseguir recuperar canais de irrigação e fazer com que
o recurso potável chegue às propriedades via tubulação e não mais por meio de
valas. A expectativa é que a perda de água por evaporação e infiltração diminua
em 45%.
André
Ricardo Gonçalves, de 32 anos, é um dos agricultores familiares do Capão da
Onça, em Brazlândia. Ele tem uma chácara de 25 hectares e conta que já se
preocupava com o uso racional dos recursos naturais, mas que muitos produtores
por ali não têm essa cultura. Por isso eleve com bons olhos a medida do GDF. “É
extremamente importante o governo anunciar novas ações, porque muita gente é
focada só no ganho da produção e não preserva o meio. Se trabalharmos de forma
correta, além de não agredir o solo, estamos ajudando o lugar onde vivemos.
Consumimos de fato os recursos, mas na agricultura, uma parte disso pode voltar
para a terra”, explica.
Uma das
atividades do pacote proposto pelo GDF é substituir o sistema de irrigação por
aspersão pelo de gotejamento nas fazendas. Essa medida vai ter o auxílio da
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF)
junto aos agricultores que não a conhecem. No caso do André, essa alternativa
de sistema já é utilizada há três anos para irrigar a produção de hortaliças. A
preferência pelo gotejamento foi a redução de recurso e custo, por consumir
menos água e energia.
Outra ação
do GDF é recuperar a vegetação nas áreas degradadas da Bacia do Descoberto, o
que já é promovido pelo governo em parceria com as pessoas interessadas da
comunidade. Consciente disso, o agricultor familiar entrevistado se antecipou
no ano passado e plantou 300 mudas no leito do rio da chácara.
A
reestruturação de estradas e construção de quebra-molas é outra meta. E, neste
caso, vai ser realizada com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil
(Novacap) para reverter a erosão e reduzir a deposição de sedimentos nas
nascentes que deságuam no Descoberto. Também com auxílio da Novacap, outra
sugestão é preparar bacias de retenção dentro das propriedades para evitar o
carreamento (transporte de sedimentos pela água).
O plano
abrange também o terraceamento, que é a divisão do solo em rampas niveladas
para evitar a formação de sulcos e de erosões nas lavouras. Além disso, está
previsto nas propriedades o revestimento dos reservatórios para irrigação com
lona plástica, procedimento necessário para conservar o volume de água
armazenado.
“Eu e
minha família aqui na propriedade já tínhamos noção da nossa responsabilidade
com o meio ambiente e vamos continuar contribuindo. Estamos abertos a receber
sugestões aqui dentro da chácara e adotar novas ações para melhorar sempre”,
conclui o agricultor André Gonçalves sobre o plano de racionamento para o meio
rural.
Como saber
se a irrigação está eficiente
A aferição da umidade do solo estabelece a quantidade de água infiltrada,
independentemente do modelo de irrigação usado. O sistema consiste em um
equipamento com cerâmica porosa em uma ponta junto com um medidor de água, que
é enterrado próximo à raiz da planta, além de uma cápsula com marcação de
volume.
O material
identifica o nível de infiltração no solo para saber até que ponto o líquido se
acumula. O mecanismo custa na faixa de R$ 300, com um kit de seis medidores.
Porém, o próprio produtor pode improvisá-lo com uma vela de filtro e um
recipiente com marcador de volume. Nesse caso, o custo total gira em torno de
R$ 60.
Com o
manejo de irrigação, é possível produzir um volume hídrico adequado na raiz, no
início do crescimento da planta. Dessa forma, a estrutura fica maior e mais
resistente a pragas. O resultado é o melhor aproveitamento da água e também a
produtividade das culturas.